sábado, 26 de novembro de 2011

SEEB-MA apoia a greve dos militares no MA

SEEB-MA exige do Executivo Estadual imediata solução para o impasse que leva ao caos a segurança dos maranhenses.


O Sindicato dos Bancários do Maranhão (SEEB-MA), atento às lutas dos trabalhadores, entendendo como legítimas as reivindicações dos policiais e bombeiros militares do Maranhão, vem a público manifestar apoio e solidariedade à paralisação da categoria.

Junta-se, portanto, a todos os segmentos sociais que reclamam postura de responsabilidade constitucional do Governo do Estado do Maranhão quanto ao cumprimento e ao zelo de tal princípio, e, por isso, exigem do Executivo Estadual imediata solução para o impasse que leva ao caos a segurança dos maranhenses.

Impasse, aliás, que poderia ter sido evitado, caso os trabalhadores tivessem sido tratados com o merecido respeito

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

25 de novembro – Dia de luta contra a violência à mulher

Lourdimar Silva – Juventude do PSTU-MA
Dia 25 de novembro de 1981, no 1º encontro feminista latino americano e caribenho ocorrido em Bogotá (Colômbia), foi designado em todo o continente latino americano e no Caribe, como o dia de luta contra a violência à mulher. A data existe em referência às irmãs Patria, Minerva e Maria Teresa, que foram assassinadas durante a ditadura na República Dominicana, pelo governo de Rafael Trujillo. As irmãs eram conhecidas como irmãs Mariposas, por sua luta contra aquele governo. Hoje, no meio das estatísticas de violência, encontramos várias irmãs Mariposas, mortas em decorrência da violência machista, vítimas de agressões, espancamentos e assassinatos. Isso é um retrato da opressão machista, naturalizada por esta sociedade.

A opressão machista
Sabemos que as opressões são anteriores a este modo de produção, porém é nesse sistema que essas relações tomam outro significado. Estudos antropológicos afirmam que a mulher passa a ser oprimida de acordo com as modificações ocorridas nas relações humanas no decorrer dos tempos, e os fatores de ordem econômicas são decisivos nesse sentido. Esses fatores que vieram a determinar todo o aparato ideológico para sustentar essas opressões.

O machismo é um meio usado como aproveitamento das desigualdades para por em desvantagem e submeter um grupo social em base às diferenças de gênero. Há uma apropriação destas diferenças, pelo sistema capitalista, como forma de transformar tudo em diferença mercadológica. Com a apropriação destas diferenças, esse sistema provoca a produção de um poder ainda maior quando reforça a ideologia do machismo, frente às pessoas que possuem somente sua força de trabalho como condição de sobrevivência. A opressão machista representa assim, um instrumento para a reprodução da exploração, que é a apropriação dos frutos do trabalho alheio por uma minoria.

Isso é bem visível quando se percebe a diferença de salário entre homens e mulheres exercendo a mesma função por exemplo. As mulheres, que são maioria da população, ganham em média 33% dos salários pagos aos homens, mesmo exercendo a mesma função. E as mulheres são quase metade do mercado de trabalho. O machismo é utilizado para pagar menos para as mulheres trabalhadoras, reforçando assim a divisão da classe trabalhadora.
A violência.
Com a ideologia do machismo reforçada e reproduzida, as mulheres estão cada vez mais submetidas à piadas depreciativas, aos casos de assédios, à desigualdade no mundo do trabalho, a violência.

A cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas, e 10 mulheres são mortas por dia. Esses são dados da triste realidade em que as mulheres estão inseridas. Segundo pesquisa feita pelo DIEESE, 45% dos casos de violência física sofrida pelas mulheres, ocorrem nas suas residências. É um retrato de uma sociedade que mata através da opressão.

As mulheres negras são as maiores vítimas. A combinação do racismo e machismo faz com que as jovens negras liderem as estatísticas de vítimas por causas externas (homicídios, acidentes, suicídios), e essas mulheres residem nas áreas de maior pobreza, bairros pobres da periferia, favelas(a maioria das mulheres que vivem em favelas no Brasil são negras).

A violência “invisível”, aquela que não deixa marcas à mostra, também atinge muito as mulheres. É a agressão verbal, a violência psicológica, a cantada mais grosseira. São os casos de abortos inseguros. O aborto inseguro é a principal causa da morte materna na América Latina. Em 2010, cerca de 21% das mortes maternas devem-se às complicações do aborto inseguro. Esses são alguns dos exemplos em que deixam claro o caráter de classe existente na opressão de gênero. O machismo é um meio de controlar a mulher como forma de reproduzir e fortalecer o sistema de produção baseado na propriedade privada.

O Estado também é violento. A ausência de políticas estatais para assegurar melhores condições de vida para as trabalhadoras, a criminalização do aborto, a não garantia de maternidade com sistema de saúde de qualidade, e outras tantas formas revelam a violência promovida por esse sistema, que utiliza a “diferenciação entre homens e mulheres” para aumentar a exploração e a violência física para proteger os lucros dos patrões.
O governo Dilma é um verdadeiro exemplo de que não basta ser mulher para se colocar contra as opressões. Até agora esse governo segue sem nenhum apontamento de políticas publicas para melhores condições de das mulheres trabalhadoras. O que observamos são cortes nas verbas que seriam para atendimento das necessidades da classe trabalhadora, e grandes ajudas financeiras para os bancos.

É preciso se organizar!
E nesse cenário é preciso se armar de forma organizada contra o que oprime e explora. É preciso dizer um basta, contra a violência. É preciso ser radicalmente contra as menores manifestações de opressão, como as piadas machistas, as agressões, a absurda violência doméstica e os bárbaros assassinatos. É preciso exigir do Estado que os agressores sejam punidos, que seja garantido o apoio jurídico, médico e psicológico às mulheres vítimas de violência. Exigimos salário igual para trabalho igual. As mulheres devem se organizar e protagonizar as lutas contra toda forma de opressão. Mas para além disso, a tarefa que está colocada é maior.

A opressão da mulher está ligada à existência da propriedade privada, pois garante cada vez mais lucros para os patrões, que usam para isso, as diferenças de gênero. Assim, somente uma mudança total na raiz dessa sociedade assentada nesse tipo de relação é que poderá superar o machismo e as opressões em geral. É preciso usar como exemplo as histórias de lutas de tantas “Mariposas” que se sacrificaram e não se calaram diante da superexploração das mulheres.

Se trata de organizar a classe que sofre diariamente a exploração capitalista, homens e mulheres, que devem tomar pra si a tarefa de transformação desse modo de produção.

Lourdimar Silva (Lu)
Estudante de Economia
ANEL / CSP Conlutas
Juventude do PSTU
LIT-QI
lourdimarsilva@hotmail.com
98 81786407

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Declaração do PSTU sobre a conjuntura maranhense

Existe no momento um forte questionamento ao Governo Roseana Sarney pelos movimentos sociais e diversas categorias de trabalhadores. A mobilização dos policiais militares e bombeiros contra o governo no dia 8 de novembro foi um marco importante dentro de uma série de greves e lutas que ocorreram no Maranhão este ano.

Com um governo sem realizações, Roseana teve um primeiro ano marcado pelas denúncias de corrupção no INCRA e na FAPEMA (que permanecem impunes) e o enfrentamento com as greves dos profissionais da educação, dos policiais civis e grandes mobilizações das comunidades quilombolas.

Apesar do crescimento econômico - arrecadação recorde de impostos, ampliação das transferências de verbas federais, aquecimento do setor imobiliário e o anúncio de grandes investimentos como Vale e Suzano – no Maranhão, o modelo de apropriação da riqueza produzida no estado permanece o mesmo das últimas décadas: concentrador, destruidor da natureza e de acordo com os interesses das grandes empresas e o latifúndio.

Os professores, que permaneceram 77 dias em greve, sofreram um duro golpe com a aprovação pela assembleia do PL 248/11 que trata de aumento salarial da categoria, desrespeitando a implantação da lei do piso. Aprovação comemorada pelo SINPROESEMMA, ligado ao PcdoB/PT/CTB.

Os quilombolas e indígenas sofrem com os latifundiários e grandes empreendimentos, que matam e expulsam-os de suas terras. Situação criada pelos governos Roseana Sarney e Dilma que não titulam suas terras.

O movimento dos militares representa um salto na crise do governo e atinge em cheio as estruturas internas do Estado. É progressivo e coloca o governo na defensiva porque é marcado pela ativa participação dos oficiais de baixa patente, por sua pauta de reivindicação anti-autoritarismo e seu caráter claramente anti-governista.

O Maranhão permanece como grande exportador de soja e minério (74,3% do total de exportação do Estado) e com um déficit na balança comercial, pois o estado não produz e importa quase de tudo (desde o tomate da feira). Um estado que garante a lucratividade do capital, mas que não contempla as necessidades básicas da população.

O crescimento do PIB não se reverteu em melhoria dos indicadores sócio-econômicos do Maranhão. A grande maioria dos trabalhadores vivem sem acesso de qualidade aos serviços básicos de educação, saúde, segurança pública e saneamento básico. Seguem exemplos desta situação: mais de 36% de taxa de mortalidade infantil, 32% de pessoas acima de 15 anos são analfabetas funcionais, mais de 24% da população do estado ganha até R$ 70 por mês, apenas 1% dos municípios possuem tratamento de esgoto.

A ampliação recente do limite de endividamento do Estado significará mais arrocho nos salários do funcionalismo, mais precarização do serviço público e sua entrega para as mãos da iniciativa privada. Será mais dinheiro que sairá da escola e do hospital dos mais pobres e passará para os mais ricos, aqueles mesmos que financiam suas campanhas políticas.

Não podemos ter nenhuma confiança na Assembléia Legislativa que aprova os projetos de Roseana nem na falsa oposição que busca retomar o controle do Estado para praticar o mesmo plano de ataques aos trabalhadores e garantir mais privilégios para seu grupo.

O PSTU faz um chamado à unidade dos setores da esquerda classista e socialista para enfrentar a Oligarquia e o Governo Dilma. Precisamos confiar somente nas nossas próprias forças para conquistar vitórias para o conjunto dos trabalhadores deste Estado.

Fora Roseana Sarney!
Todo apoio às mobilizações dos policiais e bombeiros!
Não à presença da Força Nacional no Maranhão!
Por um governo socialista dos trabalhadores!

Direção do PSTU Maranhão

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VÍDEO: A GENTE TEM QUE CHEGAR LÁ

Este vídeo foi produzido pelo Fórum Estadual [Maranhão] em Defesa da Educação Pública em parceria com a APRUMA e CSP CONLUTAS especialmente para a Campanha dos 10% do PIB para a Educação Pública Já com a realização do Plebiscito popular que deu inicio a coleta de votos no Maranhão nesta quinta-feira (17/11), na oportunidade foi realizado uma AULA PÚBLICA na Praça Deodoro com a presença de representantes do FORUM da CSP CONLUAS, ANEL, QUILOMBO URBANO e do Professor Miguel Malheiros da CSP Conlutas - RJ e do Instituto Latinoamericano de Estudos Socioeconômicos - ILAESE.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A tinta vermelha: discurso de Slavoj Žižek aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street

Slavoj Žižek visitou a Liberty Plaza, em Nova Iorque, para falar ao acampamento de manifestantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street), que vem protestando contra a crise financeira e o poder econômico norte-americano desde o início de setembro deste ano.

O filósofo nos enviou a íntegra de seu discurso para publicarmos em nosso Blog, que segue abaixo em tradução de Rogério Bettoni. Caso deseje ler a versão original em inglês, está disponível no site da Verso Books (assim como outros comentários de filósofos e cientistas sociais sobre o movimento Occupy Wall Street).

***

Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.

Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.

Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.

Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?

Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…

Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China). O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.

Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…

Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador. Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?

Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais. Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.

Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.

Um Chamamento ao Novembro Vermelho do Maranhão: em defesa da Educação Pública e contra a criminalização da pobreza

*Por Hertz Dias

Dois importantes eventos sacudirão a cidade de São Luís nas próximas semanas: o Plebiscito em defesa da destinação de 10%do PIB para a educação pública que acontecerá no período de 06 de Novembro a 06 de Dezembro e a VI Marcha da Periferia que esse ano traz como tema “Contra a Criminalização da Pobreza” e acontecerá no período de 14 a 27 de novembro.

Esses dois eventos tratam de questões que estão intrinsecamente ligadas e possibilitarão reaproximar dois segmentos que jamais deveriam está separados, a juventude das periferias e seus educadores, os seja, os dois principais sujeitos históricos de defesa da escola pública. Exigir que a presidenta Dilma aplique 10% do PIB na educação pública significa fazer com que o Estado estenda seu “braço social” às periferias. Significa igualmente dizer que os problemas da periferia não são simples caso de polícia, aliás, nunca foram.

Infelizmente, nos últimos anos os governos têm, muito sabiamente, jogado a juventude das escolas públicas contra os movimentos dos educadores, especialmente em momentos de greves. Por outro lado, muitos educadores têm desconsiderado os movimentos culturais que emergem das entranhas do obscuro e violento cotidiano das periferias brasileiras; e o Hip Hop é um desses movimentos.

A Marcha da Periferia, que surgiu em 2006 na cidade de São Luís a partir da iniciativa de militantes do Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão “Quilombo Urbano”, este ano estará sendo realizada também em São Paulo com a perspectiva de se transformar em um evento nacional para os próximos anos. Rio de Janeiro e Ceará já sinalizam nesse sentido. Do mesmo modo, o Plebiscito dos 10% do PIB para educação pública deve envolver o maior número possível de jovens filhos da classe trabalhadora. Esses dois eventos deverão ser construídos a quatro mãos, deve ser o reencontro do “elo perdido” da corrente dessas duas gerações cuja dependência é recíproca.

O caos da educação pública é parte do processo de criminalização da juventude negra e pobre deste país e a criminalização dos educadores deste país é a porta de entrada para a “marcha fúnebre” que querem fazer seguir a educação pública. Somente a unidade entre esses dois setores em aliança com o conjunto da classe trabalhadora pode reverter essas duas drásticas situações.

Se na educação o déficit é de aproximadamente 500 mil professores, nos presídios o superávit é de 700 mil presos. O que sobra nos presídios falta nas escolas. Só em 2008 o investimento em segurança pública (repressão contra os pobres) cresceu aproximadamente 15%, enquanto nos últimos dez anos o PIB para educação não saiu da casa dos 4%. Mas, só para o pagamento da dívida pública o governo destina 49% do PIB.

No entanto, Dilma quer postergar para 2020 a aplicação de apenas 7% do PIB. Quer condenar a educação pública a mais dez anos de caos. Nós defendemos 10% do PIB Já! e só para educação pública. Sendo assim, caminhar de mãos dadas nesse momento significa unir os diferentes que fazem parte da mesma classe, a dos que produzem, mas não usufruem das riquezas produzidas.

No dia 17 de novembro, quinta-feira, haverá um ato-show com aula pública em defesa da aplicação dos 10% do PIB para educação pública. A aula será ministrada em plena Praça Deodoro, centro de São Luís, pelo professor Miguel Malheiros do Sindicato Estadual de Profissionais da Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) e membro do Instituto Latino Americano de Estudos Sócio Econômicos (ILAESE) e pela estudante Clara Saraiva da executiva nacional da Assembléia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL). Nesse dia, a partir das 15h, as escolas públicas de São Luís deverão ser “silenciadas” e a Praça Deodoro deverá ser transformada numa grande sala de aula em defesa da educação pública. Os alunos deverão está junto com os seus professores.

No dia 25 de novembro, sexta-feira, será a vez da IV Marcha da Periferia, o local e o horário serão os mesmos e a estratégia também. As escolas públicas deverão ser igualmente silenciadas às 15h. Desta vez os professores deverão está juntos com os seus alunos numa grande caminhada pelo centro comercial de São Luís até o Circo Cultural da Cidade onde acontecerá o 22º Festival Hip Hop-Zumbi.

Um Novembro sem igual começa a ser construído, o mais vermelho de todos. Zumbi, Negro Cosme, Magno Cruz, Maria Aragão e Maria Firmina agradecerão aos que se fizerem presentes nessas atividades.

* Professor da Rede Estadual, membro da Oposição e Militante do Quilombo Urbano