sábado, 25 de agosto de 2012

Como reconhecer um P2?

Por Paulo Araújo

Nos últimos dias dias, a esquerda americana está dividida por uma nova polêmica. O jornalista Seth Rosenfeld acaba de publicar um livro em que fala que Richard Aoki, um militante histórico dos Panteras Negras, foi durante mais de 50 anos um informante da polícia.

Além do debate se isso é verdade ou não (parece que as fontes não são confiáveis, e logicamente é do interesse da CIA desacreditar os militantes históricos para jogar o nome do socialismo mais na lama ainda), isso levantou o tema infelizmente subestimado a infiltração da polícia nos movimentos.

Muitas coisas importantes foram ditas sobre isso, principalmente no ótimo site do grupo maoísta Kasama Project. Em vez de traduzir esse tipo de material, seria mais interessante escrever alguma coisa sobre a realidade do Brasil, onde a repressão não é tão sofisticada (por exemplo, nos EUA, o FBI conseguiu botar lenha nas divergências políticas dentro dos Pantera Negras com o objetivo de rachar o partido, coisa que até onde eu sei nunca aconteceu no Brasil), mas é muito mais violenta.

A questão da infiltração não tem sido levada a sério, principalmente pela nova geração de militantes, formada depois da destruição contrarrevolucionária da URSS e depois de mais de vinte anos de democracia burguesa no Brasil, e que se expõem e se organizam pelas redes sociais. Por isso, tentamos usar parte da nossa experiência para dar exemplos e mostrar a importância do que estamos falando.
Quais são os tipos de P2?

Quando a gente fala P2, na verdade podem ser funções muito diferentes. Existem muitos tipos de infiltrados no movimento, e eu vou falar dos dois mais comuns.

Antes disso, uma coisa tem que ficar bem clara: existe a polícia à paisana do Serviço de Inteligência (P2), ou a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência, que substituiu o SNI na ditadura, mantendo as mesmas funções) mas o que a gente chama de P2 no movimento GERALMENTE NÃO É POLÍCIA. Muitas vezes, são pessoas que têm trabalho, mas são pagas para se inflitrarem no movimento e agir como provocadores e/ou recolher informação.

Em alguns casos muito tristes e vergonhosos, são ex-militantes ou militantes que, por vários problemas pessoais graves (dívidas pesadas, vício em drogas, acordos para redução de penas na justiça, ameaças a familiares etc), acabam virando informantes, o que torna quase impossível a gente descobrir.

Mas, voltando ao assunto: geralmente nós encontramos dois tipos de P2:

- provocadores

São os caras que incentivam os movimentos a fazerem ações ilegais totalmente absurdas, fora do contexto e sem nenhuma possibilidade de sucesso, justamente para provocar prisões e processos.

Eu lembro de um caso de um ato do movimento antiglobalização, em que apareceu uma pessoa com uma pedra, chamando as pessoas para jogarem na Bolsa de Valores (quando ainda existia no Rio) junto com ele. Logicamente, ninguém caiu nessa, mas se tivesse caído, com certeza seria preso por ele mesmo!

Claro que nem toda pessoa que quer fazer uma ação radicalizada necessariamente é polícia. Mas temos que ter a atenção redobrada quando isso é feito em situações sem planejamento e por pessoas que ninguém nunca viu. Mesmo se a pessoa for honesta, isso é uma atitude perigosa, que pode ter graves conseqauências. Como disse Trotsky, sobre políticas tão erradas que chegam a ser perigosas: "A estupidez, elevada a esse grau, é igual a traição".

- informantes

É o tipo mais perigoso, porque entra no movimento e, em algumas situações, até mesmo em organizações de extrema-esquerda, com o objetivo de recolher informações sobre os militantes, atividades, formas de organização, preparando o Estado para destruir quem ou o que ele quiser, quando for preciso.

São muito mais difíceis de descobrir, por isso podem fazer muito mais estrago. A única saída é se a gente trabalhar em cima dos erros deles. Como disse Abraham Lincoln, "é possível enganar uma pessoa por muito tempo, ou várias pessoas por pouco tempo, mas não é possível enganar todas as pessoas por todo o tempo".

Então, algumas características têm que ser tratadas com muita suspeita:

- pessoas que ninguém nunca viu
Mesmo sendo possível que isso aconteça, desconfie se alguém apareceu num movimento e não conhece nenhum integrante. Sinceramente, o movimento social não é tão popular assim que atrai pessoas sem mais nem menos!

- pessoas que parece que não trabalham
Alguns P2 estão presentes em todos os atos, em qualquer hora, e nunca fica claro exatamente o que eles fazem da vida. De onde vem o dinheiro deles? Pode ser o sinal de que eles recebem justamente pela sua atividade no movimento...

- pessoas muito ativas, mas que parece que não entendem o que estão fazendo 
Como dizem os companheiros do Kasama Project, "é impossível fingir consciência". Teve um caso aqui no Rio de um cara que estava em todos os atos, mas fazia perguntas muito estranhas (por exemplo, perguntou se o PCB apoiava o Hugo Chávez, uma coisa que a grande maioria das pessoas no movimento saberia a resposta). É o que acontece quando um policial sem vivência nos meios de esquerda cai de "paraquedas" no movimento.

- "pau pra toda obra"
É um subtipo do anterior. São as pessoas que têm dinheiro, ou recursos (carro, projetores, computadores etc) e que aparecem de repente do movimento, e se envolvem tão rápido que se tornam "indispensáveis". Isso pode ser uma tática para se inflitrarem na organização dos movimentos.

- Racismo, machismo ou outros comportamentos muito destoantes com o de uma pessoa de esquerda
É uma variação do caso anterior. Tinha um cara no movimento sem-teto que todo mundo imaginava que era P2. Para muitos, a gota dágua foi quando ele começou a esculachar um anarquista israelense que estava no Brasil, chamando o cara de "judeuzinho". Isso é tão diferente do que tradicionalmente a esquerda prega, que pode ser o sinal de que o cara não é do meio.

- pessoa que quer "registrar" o movimento
Sinceramente, se o cara quer fazer mestrado, escolha outro assunto! Uma vez vimos uma "antropóloga" de algum lugar distante GRAVANDO uma reunião da FIST. Depois perguntamos: "que porra é essa?" Depois de ouvir a historinha de que era para uma monografia sobre movimento sem-teto, falamos que não é permitido filmar nem registrar nada. Se você tiver razões sentimentais para filmar o movimento, fique com o coração partido, mas mantenha a segurança das pessoas!

- pessoas que querem saber todos os detalhes
A curiosidade é natural no ser humano, mas é bom ficar com as orelhas em pé se alguém começa a se interessar demais pela sua vida pessoal, seu trabalho, quem é de cada partido, quem dirige qual movimento, sobre as finanças do movimento (sinal vermelhíssimo!), rotina das atividades etc Ninguém é tão curioso sobre detalhes que só tem importância se você for "usá-los" com algum objetivo...
O que podemos fazer?

Em quase todos os pontos acima, falamos em "sinais" e suspeitas. Provavelmente, só depois de uma revolução seria possível abrir os arquivos da polícia e descobrir quem realmente era P2 e quem só tinha um comportamento suspeito.

Esse também é um motivo para não ficarmos "queimando" qualquer pessoa que tenha um comportamento como os mostrados acima. Aliás, a fofoca e as picuinhas certamente prejudicam o movimento mil vezes mais do que a polícia pode fazer!

A atitude correta é a organização e o movimento SE AFASTAR DISCRETAMENTE do possível P2.

Além disso, na era da Internet, não custa nada lembrar algumas medidas óbvias de segurança, que devem ser levadas a sério:

- NUNCA dizer de qual organização você é na Internet, a não ser que você seja uma figura pública, esteja em campanha eleitoral etc.

- NUNCA organizar nada pela Internet, no máximo divulgar ATOS PÚBLICOS E LEGAIS.

- NÃO SE EXPONHA em manifestações, NÃO SE DEIXE SER FOTOGRAFADO, principalmente em enfrentamentos. Se você quer brincar de super-heroi, vai ojogar videogame!

- SÓ PARTICIPE DE AÇÕES RADICALIZADAS adequadas ao movimento, PLANEJADAS e ORGANIZADAS PREVIAMENTE por pessoas ou organizações DA SUA MAIOR CONFIANÇA.

- NÃO FALE da sua VIDA PESSOAL com pessoas que você não conhece no movimento.

- NUNCA USE O TELEFONE PARA ORGANIZAR ATIVIDADES. Se você precisar fazer isso, USE METÁFORAS que não permitem alguém de fora entender o assunto. Ou seja, fale por meio de parábolas (por exemplo, na ditadura, muitas vezes se falava "vamos jogar futebol"). Na década passada, uma ocupação foi perdida porque marcaram com as pessoas a entrada no prédio usando o telefone do DCE da UERJ (que tem 150% de chance de estar grampeado!). 

- NÃO USE O FACEBOOK E O TWITTER PARA DETALHAR TUDO O QUE VOCÊ FAZ. Ano passado, foi presa uma quadrilha de sequestradores que descobriam toda a rotina das suas vítimas pelo Facebook, depois iam para os eventos sociais preferidos delas, e sequestravam. Imagina o que a polícia pode fazer? 

Todos os setores da esquerda são contra a terceirização, então nada melhor do que não "terceirizarmos" o trabalho da polícia, informando sobre as nossas atividades e as do movimento!

Para terminar, lembramos que a melhor obra que existe sobre o assunto é O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão?, escrita pelo militante do partido bolchevique, Vitor Serge. Ele dá vários conselhos aos militantes, e esse talvez seja o mais útil e mais bonito:

"Não incomodar-se nem se ofender pelo silêncio de um camarada. Isso não indica de falta de confiança, e sim uma estima fraternal e uma consciência, que deve ser comum, do dever revolucionário"

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O partido revolucionário e a legalidade

• Partidos revolucionários existem para dirigir revoluções. Essa é sua razão de ser. O PSTU não foge à regra: somos aqueles que se organizam e lutam para fazer triunfar a revolução socialista brasileira. As revoluções, como todos sabem, são atos “ilegais”, onde as massas organizadas rompem as correntes de dominação que as envolvem e tomam em suas mãos as rédeas de seu próprio destino. Ao fazerem isso, inevitavelmente violam a legalidade burguesa: ocupam fábricas e terras, expropriam empresas, mobilizam milhões, param o país, ignoram o poder e as leis, exercem a violência defensiva contra seus opressores. 

Não seria uma contradição, portanto, um partido que luta pela revolução socialista ter uma existência legal? Disputar eleições, ter sedes públicas? Filiar pessoas, prestar contas à justiça sobre seus gastos? Não deveria um partido revolucionário manter-se em completa ilegalidade até a vitória da revolução? A existência de um partido revolucionário legal não é uma contradição em si? Um sintoma de sua adaptação à democracia burguesa? 

O PSTU começou agora uma campanha de filiação e muitos ativistas honestos nos questionam sobre isso. A pergunta não é sem sentido. O marxismo já realizou grandes e importantes debates sobre esse problema. É preciso abordar o tema de maneira franca e aberta.

A tradição revolucionária
Para chegar a dirigir a classe trabalhadora na luta pelo poder, o partido revolucionário deve romper com a marginalidade. Ou seja, deve ser conhecido, escutado e seguido por milhões. Isso, obviamente, não acontece da noite para o dia, mas através de um longo e tortuoso processo de construção partidária. Nesse terreno, a tarefa dos revolucionários consiste em aproveitar cada oportunidade para se apresentar diante das massas como uma alternativa política. E não estamos falando apenas da atuação eleitoral ou parlamentar, mas de algo muito mais profundo: o partido revolucionário deve tornar-se o grande partido da classe trabalhadora, a referência de suas lutas, o instrumento de sua educação política, o espaço de sua organização cotidiana.

O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla em alemão), por exemplo, fundado em 1875, adquiriu uma influência gigantesca sobre a classe trabalhadora daquele país graças à combinação da estratégia revolucionária com a atuação legal. O SPD, além de eleger parlamentares e dirigir sindicatos, organizava clubes culturais, montava bibliotecas para os trabalhadores, criava círculos de estudo e alfabetização, publicava jornais diários, editava revistas teóricas e muitas outras atividades. Mais tarde, esse partido se degenerou, abandonando a luta pela revolução socialista, mas deixou na história a marca do incrível trabalho legal que realizou. O SPD aproveitava cada oportunidade para se aproximar dos operários mais simples, mais conservadores, mas que viam nele o seu partido, o partido de sua classe.

Mas certamente o exemplo mais rico de combinação da estratégia revolucionária com a atuação legal vem do Partido Bolchevique, que conduziu a classe operária russa ao poder em 1917. Ao contrário do que em geral se pensa, os bolcheviques não tiveram apenas uma atuação clandestina nos anos que antecederam a tomada do poder. Por diversas vezes, atuaram de maneira aberta, participando das eleições e publicando jornais legais. Isso contribuiu enormemente para que o Partido Bolchevique ampliasse sua influência sobre a classe trabalhadora, o que por sua vez foi decisivo no momento da disputa pelo poder.

Eis a opinião de Lênin, dirigente da Revolução Russa, sobre a importância, para o Partido Bolchevique, da combinação do trabalho legal com a estratégia revolucionária: 

“Esse procedimento [a combinação do trabalho legal com a estratégia revolucionária] não foi utilizado nem pelos socialistas-revolucionários, nem pelos kadetes, o mais organizado dos partidos burgueses: partido quase legal, que dispõe, em comparação com o nosso, de recursos financeiros infinitamente maiores e tendo possibilidades enormes de utilizar a imprensa e viver legalmente. E nas eleições à 2ª Duma [parlamento], nas quais tomaram parte todos os partidos, não foi demonstrado, de maneira evidente, que a coesão orgânica de nosso partido e de nossa minoria parlamentar na Duma foi superior à de todos os demais partidos?” 

Ou seja, o partido mais revolucionário que a história já conheceu utilizava a legalidade burguesa de maneira mais hábil e mais inteligente do que os próprios partidos burgueses liberais! Mas isso, que parece uma contradição, é justamente a ideia fundamental de Lênin em termos de organização revolucionária: um partido com uma estrutura flexível, capaz de passar rapidamente da mais absoluta ilegalidade a uma atuação legal ampla (caso as condições permitam). E o contrário: em caso de golpe ou repressão, capaz de sair imediatamente do cenário legal e passar à clandestinidade, de forma a preservar seus quadros, sua direção e seu trabalho político.

Após a vitória da Revolução Russa, a Internacional Comunista (ou Terceira Internacional), ou seja, o partido mundial da revolução fundado em 1919 para dirigir a revolução socialista internacional, definiu assim as tarefas dos revolucionários em termos de combinação do trabalho legal com o clandestino:

“Seria um grande erro preparar-se exclusivamente para os levantes e os combates de rua ou para os períodos de maior opressão. (…) Cada partido comunista ilegal deve saber utilizar todas as possibilidades do movimento operário legal para se transformar, por meio de um trabalho político intensivo, no organizador e verdadeiro guia das grandes massas revolucionárias”. 



Nossa experiência
Depois que foi expulso da URSS em 1929, Trotsky, dirigente da Revolução Russa ao lado de Lênin, se dedicou a fundar a Quarta Internacional como continuidade da Terceira Internacional, degenerada pela contrarrevolução stalinista. A tarefa fundamental naquele momento era fazer com que os revolucionários superassem a marginalidade imposta pelo peso do stalinismo no movimento de massas. Trotsky continuou na nova Internacional, a tradição bolchevique de combinação entre o trabalho legal e a estratégia revolucionária, com vistas a ganhar a consciência dos trabalhadores.

O Partido Socialista dos Trabalhadores norte-americano (SWP, na sigla em inglês), por exemplo, aplicou ao longo de sua história uma infinidade de táticas legais: disputas sindicais, participação eleitoral, organização de greves econômicas, chamados à construção de novos partidos legais etc. Tudo isso com um único objetivo: chegar às amplas massas, disputar a direção política da classe operária. 

A corrente internacional fundada pelo dirigente trotskista argentino Nahuel Moreno, e da qual o PSTU faz parte, fez o mesmo: participação nas organizações sindicais legais do peronismo, amplas campanhas eleitorais sempre que as condições permitiam, unificações com outras organizações revolucionárias para formar novos partidos legais etc.

Aqui no Brasil, a organização trotskista surgida na metade dos anos 1970 e que deu origem ao PSTU teve desde o início essa mesma preocupação: a busca do movimento de massas através de um amplo trabalho de agitação legal. Em plena ditadura militar, fomos os primeiros a defender a construção de um partido socialista legal, proposta que acabou sendo superada positivamente com a fundação do PT em 1980. Ao sermos expulsos desse mesmo PT em 1991, imediatamente começamos a trabalhar pela construção de um novo partido revolucionário legal, o que culminou na fundação do PSTU em 1994.

Assim, o trabalho revolucionário legal é parte de nossa tradição. Ele é necessário pelo simples motivo de que em épocas de calmaria as massas não estão dispostas a ações revolucionárias por fora da legalidade burguesa. Tal é a realidade com a qual os revolucionários devem lidar em sua luta por dirigir as massas e ganhar sua consciência.

Como dizia Lênin, “Vosso dever [dos comunistas] consiste em não descer ao nível das massas, ao nível dos setores atrasados da classe. Isso não se discute. Tendes a obrigação de dizer-lhes a amarga verdade: dizer-lhes que seus preconceitos democrático-burgueses e parlamentares não passam disso: preconceitos. Ao mesmo tempo, porém, deveis observar com serenidade o estado real de consciência e de preparo de toda a classe (e não apenas de sua vanguarda comunista), de toda a massa trabalhadora (e não apenas de seus elementos avançados).” 

O PSOL e a legalidade burguesa
O que dissemos até aqui não tem nada a ver com o que fazem, por exemplo, algumas correntes do PSOL, que simplesmente abandonaram qualquer perspectiva de atividade revolucionária de combate. Essas correntes consideram que entramos em uma época histórica em que as revoluções não são possíveis. Dizem que devemos nos preparar para décadas de estabilidade política, social e econômica. Fruto dessa avaliação, essas correntes ditas socialistas acabam com todas as características conspirativas de sua organização: o segredo, a preservação da estrutura dirigente, a separação estrita entre militantes e filiados etc. Desmontam a organização revolucionária e preservam apenas a organização legal. Se entregam de corpo e alma à legalidade burguesa. Está claro que em um momento de ascenso revolucionário, estas organizações estão condenadas à falência e ao desaparecimento.

As correntes ditas socialistas que existem no PSOL cometem um erro grave porque confiam nas boas intenções da democracia burguesa; esquecem que o acirramento da luta de classes acaba com qualquer vestígio de democracia, mesmo da democracia formal. Os ex-moradores do Pinheirinho, por exemplo, expulsos de suas casas apesar de uma liminar concedida pela justiça, sabem muito bem que a palavra (mesmo escrita!) da democracia burguesa não vale absolutamente nada. Confiar na legalidade burguesa, como fazem essas correntes, é acabar com o caráter socialista e revolucionário da própria organização. 

Nosso atual objetivo na atividade legal
O PSTU está em campanha de filiação. Nosso objetivo é aumentar significativamente o número de operários, jovens e trabalhadores em geral que têm uma relação formal, oficial, com nosso partido. Esse tipo de relação é muito importante para um setor da classe trabalhadora. Vários companheiros relatam que quando vão visitar ativistas operários mais velhos em suas casas, estes muitas vezes se declaram comunistas e exibem com orgulho a carteirinha já envelhecida de filiado do antigo PCB. Provar por meio da carteirinha do partido sua condição de operário e comunista já foi um gesto comum em nossa classe. E era uma linda tradição. Para um operário, filiar-se a um partido é estabelecer um vínculo, assumir um certo compromisso político e ideológico, colocar-se já em um lado da trincheira.

Em um partido revolucionário, o filiado é diferente do militante. O militante tem direitos: pode influenciar os rumos do partido, assumir tarefas de responsabilidade e disputar a direção da organização. Já o filiado não tem esses direitos. Mas isso não quer dizer que o filiado não possa ter um papel importante na vida do partido. Queremos consolidar uma relação política e ideológica com milhares de ativistas que nos olham com simpatia, concordam em geral com nosso programa, vêem com bons olhos as ideias do socialismo, mas não querem ser militantes, ou seja, não querem dedicar o essencial de seu tempo à atividade revolucionária. Essa relação política deverá ser alimentada por nossos materiais impressos e eletrônicos, pela presença desses filiados em nossas atividades abertas de propaganda e agitação, por relações sociais mais próximas.

Nossa campanha de filiação nada mais é, portanto, do que um pequeno, porém importante passo na disputa pela consciência das massas. Trata-se de aumentar, expandir, fortalecer a influência do partido revolucionário sobre sua periferia política, e por meio desta – sobre os trabalhadores em geral. Trata-se, em resumo, de cravar ainda mais fundo e levantar mais alto a bandeira do socialismo.

Errata: Este artigo foi publicado originalmente no Opinião Socialista n.447, erroneamente com o título de "Partido", como sendo parte da série "O que é". O título certo é "O Partido revolucionário e a legalidade" e a editoria é de "Teoria".

Por HENRIQUE CANARY, DA SECRETARIA NACIONAL DE FORMAÇÃO - pstu nacional

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Nota de esclarecimento sobre as eleições em São Vicente Férrer

A legenda do PSTU está sendo utilizada indevidamente nas eleições municipais de São Vicente Férrer, município localizado na Baixada Maranhense a 280km de São Luís. Lá o PSTU está fazendo parte de uma coligação envolvendo vários partidos de direita e legendas de aluguel.
 
Tratava-se de um grupo de trabalhadores rurais e quilombolas que procurou o Partido desde o início do ano passado para fazer uma experiência política conosco, mas que no entanto traíram nossos princípios e nossa estratégia ao se aliar com os representantes da oligarquia e do latifúndio.
 
Informamos que já destituímos o diretório municipal de São Vicente Férrer assim que soubemos do fato e que estão sendo tomadas as providências jurídicas cabíveis para cassar estas candidaturas que não tem nada a ver com o programa classista que sempre apresentamos aos trabalhadores do Estado e do país.

Não permitiremos que falsas “lideranças” manchem a história de luta e de respeito político que nossa organização acumulou nestes quase 20 anos. Continuamos a apoiar a luta dos quilombolas pela titulação das suas terras e a defendê-los seus dirigentes honestos dos ataques dos latifundiários da região.
 
Direção Estadual do PSTU Maranhão