terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A economia anarquista

No primeiro artigo desta série, publicado na edição n° 471, expusemos as ideias fundamentais do anarquismo e as criticamos desde um ponto de vista marxista. Ao adiantarmos os temas dos próximos artigos, dissemos que, do ponto de vista da economia, a realização do ideal anarquista representaria um retrocesso em todo o desenvolvimento humano e social, mesmo em comparação com o capitalismo. Tal afirmação causou enorme indignação entre alguns anarquistas. No presente artigo, tentaremos provar esta terrível declaração.
 
A economia capitalista e o marxismo
A Idade Média foi um período de atraso e ignorância. Os povos estavam divididos em pequenas unidades político-econômicas chamadas feudos. Cada feudo tinha seu príncipe, suas leis, suas unidades de peso e medida, sua moeda e seu exército. A economia era de subsistência e o comércio entre feudos era esporádico, se resumindo a uns poucos itens que sobravam ao final de cada safra. A burguesia nasceu, cresceu e se fortaleceu como classe revolucionária no seio dessa sociedade agrária atrasada. O ímpeto comercial da burguesia rompeu essa arcaica estrutura social: vieram as grandes navegações, o renascimento das cidades, das artes e das ciências, e com elas o comércio mundial. A velha sociedade não suportou o choque, e os antigos feudos se unificaram nas grandes nações e povos que conhecemos hoje. O Estado nacional burguês, a economia nacional burguesa e a nação burguesa foram gigantescos passos progressivos na história da humanidade. Mas a burguesia não parou por aí em sua cruzada revolucionária: ela criou também a produção mundial e com isso unificou o planeta inteiro economicamente.
 
Marx considerava a mundialização da produção um fenômeno essencialmente progressivo, como a verdadeira base material da sociedade comunista, mas alertava para o fato de que esse passo adiante na capacidade produtiva humana havia encontrado um novo limite histórico na propriedade privada, no caos do mercado e nas fronteiras dos Estados nacionais. E eram justamente esses limites que precisavam ser superados. Ou seja, o marxismo parte das conquistas progressivas do capitalismo e busca superá-las positivamente, criando assim uma sociedade superior.
 
E o anarquismo? O que propõe em termos de economia?
 
A economia anarquista
Há distintas visões dentro do anarquismo sobre como deveria funcionar a economia do período pós-revolucionário. Mas alguns traços comuns podem ser delineados.
 
A ideia anarquista da oposição a qualquer tipo de poder centralizador se reflete também em sua visão econômica. Diferente do marxismo, que propõe a nacionalização de toda a propriedade burguesa e o controle racional de toda a economia por meio do Estado proletário, o anarquismo propõe que cada empresa seja controlada por seus próprios trabalhadores. E por mais ninguém. Os trabalhadores da GM controlariam a GM; os trabalhadores da Petrobrás controlariam a Petrobrás, e assim por diante.
 
Aqui começam os problemas: ora, sob o capitalismo, o controle operário da produção (cada grupo de trabalhadores controlando a sua empresa) é uma reivindicação revolucionária, pois se choca com a propriedade privada burguesa. O patrão diz: “façam isso”, e os operários fazem outra coisa; o patrão diz: “produzam em tal quantidade”, e os trabalhadores produzem em outra. Isto, sob o capitalismo, é fantástico. Por isso a burguesia tem tanto medo das comissões de fábrica e das organizações por local de trabalho. Não é um verdadeiro marxista aquele que não defende, com todas as forças, o controle operário como uma importante bandeira de luta contra os capitalistas.
 
Mas como tudo na vida, algo que é bom sob certas condições pode ser ruim sob outras. Em uma sociedade que tenha destruído a propriedade burguesa, em que não haja mais capitalistas, o controle operário por empresa deixa de ser algo progressivo e passa a ser regressivo. Quando se destrói a burguesia, a única medida realmente progressiva em termos econômicos é a planificação econômica nacional, não o controle operário por empresa.
 
Isso é assim justamente pelo que dizíamos antes: a nacionalização, e depois a mundialização da economia, levadas a cabo pela burguesia em sua época revolucionária, são uma grandiosa conquista, da qual o proletariado não pode abrir mão, sob pena de construir uma sociedade que, ao atomizar suas forças, acabe sendo inferior ao capitalismo.
 
Além disso, seria realmente justo, por exemplo, uma vez expropriada a burguesia, que os trabalhadores da GM controlassem a GM? Ora, um carro da GM também é fruto do trabalho dos trabalhadores das auto-peças, da indústria da borracha, da indústria do vidro, da indústria química, da indústria eletrônica e um longo etc. Na verdade, todas as riquezas produzidas no país são fruto de um trabalho tão profundamente coletivo, que seria impossível dizer quais trabalhadores de quais empresas contribuíram nesta ou naquela produção. A realidade é uma só: todos os trabalhadores de todas as empresas contribuem com toda a produção nacional. Ponto. E é por isso que é nacionalmente, nunca localmente, que a produção deve ser controlada. O anarquismo quer tornar os trabalhadores de uma dada empresa senhores daquela produção; o marxismo quer tornar toda a classe trabalhadora senhora de toda a economia.
 
Por isso dizemos que a proposta anarquista de fragmentação dos trabalhadores em empresas isoladas é um retrocesso em relação ao capitalismo, que é centralizado, concentrado, mundial e, justamente por isso, altamente produtivo.
 
A “liberdade” segundo o anarquismo
Calúnia! Nenhum anarquista jamais negou a necessidade das empresas-comunas estabelecerem relações entre si!”, dirão os anarquistas. E é verdade. Muitos teóricos anarquistas reconheceram essa necessidade e falaram sobre ela. Mas quais relações exatamente, segundo os anarquistas, essas empresas-comunas deverão estabelecer? Certamente não serão relações decididas em algum centro de comando, por exemplo, um “Congresso Nacional de Conselhos Operários” que venha a se instalar depois da revolução, pois isto equivaleria a um poder estatal centralizador, o que vai contra os princípios do anarquismo. “O fundamental é que sejam relações livres, decididas pelos próprios coletivos que controlam essas empresas”, dirão. Mas como seria isso na prática?
 
Em sua obra Ideia geral sobre a revolução no século 19, Pierre-Joseph Proudhon, considerado o pai do anarquismo, esclareceu o tema com a ideia de “contrato”: “Deixe-nos perguntar, que necessidade temos nós de governo quando fizemos um acordo? O Banco Nacional e suas várias filiais não garantem centralização e unidade? O acordo entre fazendeiros para compensação, comércio e renda das propriedades rurais não cria unidade? Partindo de outro ponto de vista, as associações industriais para administrar a grande produção não criam unidade? (…) A idéia de contrato exclui a idéia de governo”. 
 
E mais adiante, no mesmo livro: “Em lugar das leis, colocaremos contratos: não haverá mais leis votadas pela maioria ou mesmo por unanimidade. Cada cidadão, cada cidade, cada sindicato fará suas próprias leis. Em lugar do poder político, colocaremos forças econômicas”.
 
Muito bem, agora nos deixe perguntar aos anarquistas: que diferença há entre essas ideias e o liberalismo clássico, segundo o qual a mão invisível do mercado regula perfeitamente todas as relações sociais, sem a necessidade de qualquer intervenção por parte do Estado? Que diferença há entre as ideias de Proudhon e aquela ideia bem conhecida, segundo a qual as empresas, ao comercializarem livremente seus produtos, contribuem para o “bem comum” de toda a sociedade?
 
Ora, o pensamento de Proudhon é coerente: se não há um controle consciente por parte do Estado, a única forma de regular as relações entre as empresas é, de fato, o livre comércio. Mas isso é capitalismo, e não socialismo. Para Proudhon, assim como para o liberalismo clássico, a ideia de liberdade é inseparável da ideia de livre comércio: “Suprimir a concorrência significa suprimir a própria liberdade”.
 
Proudhon quer acabar com as leis e substituí-las pelos “livres contratos”. Mas não será a venda da força de trabalho do trabalhador para o capitalista também um “livre contrato”? Certamente é. E por acaso todos nós não lutamos contra a proposta de ACE (Acordo Coletivo Especial) do governo e da CUT, que visa substituir a CLT pelos “acordos” entre empresas e trabalhadores? Certamente lutamos. E o fazemos porque sabemos que entre desiguais nunca haverá “livre acordo”. As relações entre partes desiguais precisam ser reguladas, sempre no interesse da parte mais frágil, ou do todo ao qual ambas as partes se subordinam. Justamente para isso servirá o Estado proletário e as leis proletárias. O comunismo não será construído com a prolongação das desigualdades por meio de “contratos”, mas com a erradicação consciente desta desigualdade através de mecanismos econômicos e políticos.
 
Cada trecho dos escritos do pai do anarquismo é, verdadeiramente, a justificação de esquerda do pensamento liberal. Mas não bateremos em demasia nesta ferida tão dolorosa para os anarquistas. Afirmamos apenas que nós, marxistas, pensamos o contrário: no lugar do poder cego e alienado das forças econômicas, que esmagam os mais fracos e elevam os mais fortes, colocaremos leis que diminuam conscientemente as desigualdades, que reparem os crimes econômicos e a disparidade de condições. Defenderemos a intervenção consciente, centralizada, nacional (e depois internacional!) de toda a classe trabalhadora sobre a economia. “Ação e intervenção consciente!”, e não “livre contrato!”: eis para o marxismo, a verdadeira definição de liberdade. 
 
O caráter utópico do anarquismo
O socialismo anterior a Marx entrou para a história com o nome de “utópico” porque se resumia a especulações sobre as características de uma sociedade futura imaginada como perfeita. Já o marxismo é chamado também “socialismo científico” porque foi Marx quem expôs, pela primeira vez, não apenas os males da sociedade capitalista, mas a condição concreta para a libertação da humanidade (a extinção da propriedade privada) e o sujeito desta transformação (a classe trabalhadora).
 
Diferente do socialismo utópico, o anarquismo teve o mérito de ver na revolução social e na classe trabalhadora as chaves para a transformação do mundo. Mas em todos os outros aspectos, seu pensamento permaneceu utópico. Ao se recusar a estender qualquer ponte entre a sociedade presente e o futuro, o anarquismo permanece atado ao velho espírito de Saint-Simon, Fourier, Owen e outros filósofos utópicos, que dedicaram suas vidas a pensar um mundo melhor, mas que jamais realizaram qualquer transformação real. As experiências cooperativas dos socialistas utópicos do século 19 nunca passaram de minúsculas ilhas no imenso oceano capitalista. Já a Comuna de Paris e o Estado soviético fizeram maravilhas no pouco tempo que tiveram, e por isso são nossos exemplos e jamais serão esquecidos.
 
Os anarquistas são, em sua esmagadora maioria, revolucionários sinceros. Mas por mais que não queiram ou não admitam, são os herdeiros indiretos da escola utópica, os últimos românticos. E na dura luta de classes, na guerra sangrenta contra o capital, no violento parto que dará à luz um novo mundo – o romantismo pode ser nobre e belo, mas certamente não é útil. A ele opomos a fria e seca, porém verdadeira e cortante, escrita de Lênin, e com ela encerramos este artigo:
 
Não somos utopistas. Nunca 'sonhamos' poder dispensar bruscamente, de um dia para o outro, toda e qualquer administração, toda e qualquer subordinação; isso são sonhos anarquistas resultantes da incompreensão do papel da ditadura proletária, sonhos que nada têm em comum com o marxismo e que na realidade não servem senão para adiar a revolução socialista até que os homens venham a ser de outra essência. Não, nós queremos a revolução socialista com os homens tais como são hoje” (O Estado e a revolução).
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

PSTU NA TV, UM PROGRAMA PARA OS TRABALHADORES


Nesta terça-feira (3), às 20:30, horário de Brasília, a televisão brasileira terá uma programação diferente. Uma opinião socialista invadirá a telinha para falar com os trabalhadores brasileiros sobre a atual situação do país após as grandes mobilizações de junho. O que mudou no país? Os governos ouviram as ruas? Se conseguimos reduzir as tarifas, é possível conquistar mais? O programa semestral do PSTU dedicará os seus 5 minutos em rede nacional para falar das maiores mobilizações que sacudiram o país nos últimos vinte anos e que colocou na defensiva os governos municipais, estaduais e federal. ASSISTA!!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Marxismo e anarquismo


Desde junho, com as enormes mobilizações que tomaram conta do país, a bandeira negra da anarquia voltou a tremular nas ruas e praças das grandes cidades. Ao lado das bandeiras vermelhas das organizações socialistas, anarquistas de inúmeras vertentes cerraram fileiras, enfrentaram o inimigo comum, foram presos e agredidos, e também conquistaram vitórias. O anarquismo voltou a ser uma referência para muitos jovens que, desiludidos com a podridão dos partidos oficiais, encontram nas ideias libertárias um novo horizonte pelo qual – pensam eles – valeria a pena lutar.
Não é de se admirar. A maioria dos partidos que se dizem socialistas tem suas bandeiras manchadas pelas traições políticas que cometeram contra as lutas dos trabalhadores. E não só isso: desde o dia 21 de outubro – quando o martelo bateu no Hotel Windsor na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e o Campo de Libra foi entregue às multinacionais – algumas dessas bandeiras vermelhas, como a do PT e a do PCdoB, ficaram manchadas também com o sangue da juventude e dos trabalhadores, massacrados e perseguidos pelo Exército, em uma das caçada mais violentas contra uma manifestação desde junho, tudo isso a mando de Dilma e Cabral.
Mas a justa desilusão com algumas organizações ditas socialistas e o engajamento sincero destes jovens na luta do povo não podem nos eximir de um debate sério a respeito da estratégia anarquista. Não nos referimos aqui ao debate político sobre as ações de grupos como os Black Blocs, que embora tenham inspiração anarquista, não podem ser igualados ao próprio movimento anarquista. Com essas organizações, travamos e continuaremos travando polêmicas políticas públicas sempre que sua prática contradiga os interesses do movimento. Referimos-nos aqui ao anarquismo em si, à teoria política, social e econômica que serve de inspiração a essas organizações e a inúmeras outras.
Se o inimigo está armado até os dentes com bombas e fuzis, nossa melhor e mais importante arma é a justa compreensão dos acontecimentos, ideias e fenômenos que nos cercam. Isso inclui compreender o anarquismo.
O que é o anarquismo
Para começar, evitemos as caricaturas. O termo anarquia provém do grego (an + arkhos) e quer dizer “ausência de governo” ou “ausência de poder”. Ou seja, anarquia não quer dizer “ausência de ordem” ou “desordem”, como em geral se pensa. Ao contrário, os anarquistas visam estabelecer a mais completa e perfeita ordem social. Porém, acreditam que esta ordem só pode ser estabelecida se todo governo e todo poder forem abolidos.
Como doutrina política, o anarquismo se caracteriza pela luta contra o Estado. Os anarquistas acreditam que o Estado – esta instituição política que concentra todas as funções de governo, administração e repressão em nossa sociedade – é o responsável pela falta de liberdade do homem. Pregam que o Estado, com suas forças armadas, suas escolas, suas leis, seus impostos, sua religião oficial etc., é a fonte de toda injustiça, desigualdade e miséria espiritual em que vivemos. A tarefa consistiria, portanto, em acabar com esta instituição, abolí-la imediatamente e por completo, e instaurar o auto-governo da população em geral e de cada indivíduo em particular.
Segundo os anarquistas, ao invés de Estados nacionais centralizados, como existe hoje, a sociedade deveria se organizar em “comunas livres”, ou seja, pequenas comunidades de caráter local, auto-governadas, independentes umas das outras, não submetidas a qualquer comando ou lei geral. Essas comunas (a denominação pode variar de autor para autor) seriam unidades políticas e econômicas totalmente autônomas, cada uma com seu próprio sistema de produção e distribuição de riquezas, e que viveriam do livre intercâmbio de bens e serviços umas com as outras.
Os anarquistas pensam que o que torna o homem mesquinho, violento e egoísta é o próprio Estado e que, uma vez que este seja abolido, as pessoas viverão em harmonia, resolvendo elas próprias seus problemas, vivendo sua vida de maneira pacífica e auto-suficiente, sem a necessidade de qualquer lei escrita, instituição especial, controle, repressão etc.
Sobre os inimigos da liberdade e do povo, os anarquistas afirmam que se o Estado for abolido, nada mais restará a estes senhores, uma vez que eles são a ínfima minoria na sociedade, e sua dominação se baseia exclusivamente no poder do Estado.
Da mesma forma que renegam todo e qualquer Estado (inclusive a hipótese de um Estado controlado pelos trabalhadores), os anarquistas, em geral, renegam também os partidos políticos da classe trabalhadora. Segundo eles (repetimos: há distintas vertentes e pode haver matizes entre elas), todo partido é uma estrutura hierárquica, vertical, organizada nacionalmente, e portanto oposta ao ideal de liberdade e auto-governo inerente ao anarquismo. Assim, toda ação do povo deve se dar de maneira auto-organizada, sem uma direção específica.
Estes são, em linhas gerais, os princípios mais importantes do anarquismo. Como dissemos acima, não há somente um anarquismo, mas vários, e por isso toda generalização pode conter imprecisões. Esperamos não ter distorcido qualquer das ideias aqui apresentadas, pois o objetivo desta parte do texto era tão somente uma exposição sintética do anarquismo, e não sua crítica.
A crítica marxista ao anarquismo é a que segue.
A questão do Estado
O marxismo reconhece o Estado como uma das mais cruéis e sanguinárias instituições. Certamente, o Estado oprime e esmaga, e junto com os anarquistas, os marxistas declaram que seu objetivo último é o fim do Estado e a construção de uma sociedade de produtores livres auto-organizados. Mas infelizmente, terminam aí nossas coincidências.
Diferente do anarquismo, o marxismo não vê o Estado como criador da miséria ou da desigualdade, nem como a origem da opressão ou da falta de liberdade humana. Para os marxistas, o Estado é apenas o produto de uma determinada realidade social.
Segundo o marxismo, o mal fundamental da sociedade é a propriedade privada dos meios de produção (fábricas, bancos, terras, empresas etc), ou seja, o fato de que a sociedade se encontra dividida em classes sociais opostas: explorados e exploradores. O Estado existe porque a dominação econômica de uma classe sobre a outra precisa ser fixada na forma de leis, instituições, ideias. E depois, se preciso, defendida com armas. Se não houvesse esta organização especial chamada Estado, as classes sociais se degladiariam em uma luta sem fim e a sociedade entraria em colapso. A exploração econômica, para que seja estável, precisa de seu complemento: a dominação política, militar e ideológica – o Estado. Por isso o Estado é sempre o Estado da classe dominante.
Ou seja, o Estado é a ferramenta da qual se utilizam os exploradores para perpetuar sua dominação. Mas ele não é a própria dominação. Longe de ser uma realidade autônoma, com vida própria, o Estado não passa de um instrumento nas mãos de uma classe.
Assim, o marxismo acredita que não é possível abolir o Estado enquanto não sejam abolidas as condições materiais (sociais e econômicas) que levaram ao aparecimento deste Estado. Ao se abolir o Estado por simples decreto, permanecerão as condições que o criaram (propriedade privada, desigualdade) e portanto seu renascimento, em um prazo mais ou menos curto, é simplesmente inevitável.
O Estado dos trabalhadores
Marx afirmou que o Estado era sempre o Estado da classe dominante. Essa definição fundamental determina também a visão do marxismo sobre a revolução socialista e as tarefas do proletariado depois da derrubada da burguesia.
Para o criador do socialismo científico, a classe trabalhadora, ao expulsar os capitalistas do poder, não poderia simplesmente “ocupar” o antigo Estado burguês e usá-lo no seu interesse. Ela precisaria destruir o antigo Estado, com todas as suas instituições, leis, hierarquia etc. Mas uma vez destruído este Estado, o proletariado seria obrigado, pela própria realidade, a construir outro, completamente distinto do anterior, baseado nas organizações da classe trabalhadora e controlado por esta – mas ainda assim um Estado. Segundo Marx, a máquina estatal era necessária ao proletariado para: 1) vencer a resistência dos antigos exploradores, que, não aceitando pacificamente a derrota, se organizariam para retomar o poder e restabelecer seu domínio; 2) reconstruir a sociedade sobre novas bases igualitárias, ou seja, a transição econômica socialista. Estas duas complexas tarefas ocupariam todo um período histórico. Foi o que Marx chamou deditadura do proletariado.
Os trabalhadores, embora sejam a imensa maioria da sociedade, são uma classe explorada, oprimida e alienada, que depois de derrotar uma minoria extremamente ativa, culta, violenta e poderosa, precisa realizar uma gigantesca obra histórica. Por isso, o proletariado cometeria um suicídio histórico se abrisse mão do poder de Estado.
A dissolução do Estado para o marxismo
Mas os trabalhadores, segundo Marx, não tomam o poder de Estado para eternizar sua dominação. Ao contrário, uma vez vencida a resistência da burguesia, o proletariado começa a trabalhar para aumentar a riqueza produzida, distribuí-la equitativamente, e com isso acabar com toda e qualquer diferenciação social. Com o fim das diferenciações sociais e depois de um longo processo histórico de reeducação do homem, a sociedade poderá abolir o Estado como instrumento de dominação e controle, mantendo dele apenas as funções técnicas de administração econômica, contabilidade, assistência etc. A dissolução do Estado na comunidade de produtores livres auto-organizados corresponde ao início da fase comunista de desenvolvimento da sociedade. Leon Trotsky, o grande dirigente da Revolução Russa da 1917, combatia aqueles que qualificavam de “utopia” a estratégia da dissolução do Estado, e explicava de maneira simples o conteúdo científico do marxismo: “A base material do comunismo deve consistir em um desenvolvimento do poder econômico do homem de tal modo que o trabalho produtivo, deixando de ser uma carga e um incômodo, não tenha a necessidade de qualquer coação; nem existam outros controles sobre a distribuição, além dos da educação, do hábito e da opinião pública, exatamente como é hoje em uma família abastada. É necessário, para falar francamente, uma grande dose de estupidez para considerar como utópica uma perspectiva, em definitivo, tão modesta.” A Revolução Traída.
Como se vê, diferente do anarquismo, que imagina uma revolução e um homem ideais, o marxismo tem consciência das enormes dificuldades que o proletariado (herdeiro de toda a miséria e podridão capitalistas) enfrentará na luta pela sua libertação. Consequentemente, o marxismo reconhece a necessidade de um longo período de luta e desenvolvimento social, até que as bases materiais que deram origem ao Estado tenham desaparecido, e este possa ser abolido. Mesmo assim, a abolição do Estado (que corresponde à libertação definitiva de toda a humanidade) será lenta e gradual, se assemelhando muito mais a um “desaparecimento progressivo”, que ocorrerá na mesma velocidade em que a sociedade vá assumindo em suas próprias mãos as funções de administração e controle.
Ao analisarmos apenas a questão do Estado, já salta aos olhos o caráter utópico da teoria anarquista. Mas esta é apenas a ponta do iceberg. Ao abordar outras questões, como a economia do período pós-revolucionário, a relação indivíduo-sociedade e outras, o anarquismo revelará não apenas sua natureza romântica, mas pior (é preciso que se diga com todas as letras): o enorme retrocesso que sua implementação significaria para todo o desenvolvimento humano e social. Mas estes são aspectos que trataremos na segunda parte deste artigo. Esperamos que o leitor nos acompanhe com interesse.
Originalmente publicado no Opinião Socialista 471
Por: Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação

terça-feira, 5 de novembro de 2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sara Al Suri (Síria) no I Encontro do MML, 04 a 06/10

Atividade de apresentação do PSTU contou com cerca de 1500 mulheres que participavam do I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta, em Sarzedo-MG.

Fonte: SITE DO PSTU

domingo, 4 de agosto de 2013

Valério Arcary fala sobre as ações isoladas

Moisés não desceu com monte com um décimo mandamento dizendo: nunca jogais uma coquetel molotov contra a PM... 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O que é... conceitos fundamentais de política, economia e sociedade

Coletânea de artigos de formação política básica, publicados no jornal Opinião Socialista, órgão oficial do PSTU, entre 2010 e 2012. O objetivo desta série de artigos é explicar termos e conceitos políticos que todos nós já escutamos alguma vez, quem sabe já até utilizamos em conversas, mas não sabemos explicar. Ou seja, não se trata de um curso de formação completo, mas simplesmente do esclarecimento de alguns termos elementares.

O QUE É EXPLORAÇÃO?
O QUE É BURGUESIA?
O QUE É IMPERIALISMO?
O QUE É FRENTE POPULAR?
O QUE É DEMOCRACIA?
O QUE É IDEOLOGIA?
O QUE É RELIGIÃO?
O QUE SÃO AS FORÇAS ARMADAS?
O QUE É CRISE ECONÔMICA?
O QUE É SINDICATO?
O QUE É BUROCRACIA?
O QUE É CLASSISMO?
O QUE É REVOLUÇÃO?
O QUE É SOCIALISMO?
O QUE É JORNAL?

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quarta-feira, 24 de julho de 2013

25 DE JULHO: DIA LATINO AMERICANO E CARIBENHO DE LUTA DA MULHER NEGRA!

Foi num 25 de julho (em 1992) que representantes de 70 países se reuniram no 1º Encontro das Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, na República Dominicana, para dizer basta às opressões racista e machista. Opressões em muito agravadas pela própria exploração capitalista.
Não às senzalas modernas da escravidão sexual!
Estamos nas ruas para que não sejamos mais vistas como “a carne mais barata do mercado”. Em defesa das mulheres que sofrem com a violência da prostituição; das que sofrem com estupros; das que são criminalizadas pelos abortos clandestinos; das que não encontram casas abrigo nem delegacias femininas 24h e das que, por serem lésbicas ou transexuais, sofrem uma terceira forma de opressão, além do racismo e do machismo.

E para defendê-las só há um caminho: o da luta por investimentos em políticas públicas para as mulheres e, também, para que as reparações raciais que possam dar às mulheres negras o direito a um outro futuro.
Reivindicamos que Dilma vete o estatuto do nascituro e o “bolsa estupro”. Estamos a favor da defesa das mulheres em situação de prostituição, mas somos contrárias à regulamentação da prostituição como profissão. Entendemos que nós, mulheres negras, temos o direito de decidir sobre nossos próprios corpos, mas rejeitamos o avanço do processo de mercantilização de nossas vidas e sexualidade.

Não às correntes do subemprego!
Na América Latina existem 14 milhões “empregados domésticos”, sendo que mais de sete milhões deles estão no Brasil, onde 93% são mulheres e mais de 60% delas são negras. Contudo, a “PEC das Domésticas” quer assegurar os “direitos” dos patrões, e não das trabalhadoras: legaliza às 44h semanais de trabalho, o banco de horas, a desoneração do empregador em 12% do recolhimento para o INSS e a isenção da multa a ser paga em casos de demissões injustificadas.

É preciso acabar com os grilhões da escravidão aos quais insistem em nos acorrentar e condenar por sermos mulheres e por sermos negras!

Em defesa da vida, da liberdade e de direitos
As mulheres negras e jovens estão constantemente expostas às violências sexual e policial, acobertadas e mantidas pelo governo de Alckmin e pelo silêncio cúmplice de Haddad. Num pais, onde um jovem negro tem 139% mais chances de ser assassinado que um branco, todos os dias, mulheres sofrem com a perda de seus filhos, irmãos e companheiros.   

Mulheres e jovens negras também são a maioria nos estágios temporários, telemarketings e empresas terceirizadas, mas são as que menos estão presentes dentro das salas de aula das universidades públicas. 

Também a imensa maioria nos serviços públicos, no setor de serviços e na educação pública, principalmente nos anos iniciais. E não é por acaso que os salários desta categoria são os mais baixos dentre os que exigem uma formação superior, como também seja a que menos tem direitos.

No estado de São Paulo, hoje, cerca de 50 mil professores(as) têm um contrato altamente precarizado, a chamada “categoria O”, sem direito sequer à licença maternidade de seis meses. Por isso, também estamos na luta contra a precarização das condições de vida e trabalho.

Por isso, para nós, o 25 de julho tem que ser um dia de muita luta, que esteja a serviço de organizar negras e negros, trabalhadores e jovens. Inclusive para que, no dia 30 de agosto, construamos juntos um novo dia nacional de paralisações.

A nossa luta é de raça e classe!
Lutamos ao lado daqueles que são contra a opressão e a exploração. O capitalismo tenta transformar negras e negros em seres humanos de segunda classe, empobrecidos, excluídos e marginalizados. Suas ideologias, que dizem que isto é “natural”, legitimam o racismo e o machismo para explorar ainda mais milhões de mulheres. Destruir essa ideologia é tarefa dos homens e mulheres da classe trabalhadora, independente de governos e patrões e ao lado dos demais setores oprimidos.

Nossa luta é a luta das Dandaras, Anastácias, Rosas Parks e Luizas Mahins. Mas também de Zumbi, de João Cândido e Luis Gama. Nossa luta tem a resistência e a rebeldia das Haitianas que enfrentam, por mais de nove anos, a truculenta ocupação militar do Brasil no Haiti!

Viva a luta das mulheres negras latino americanas e caribenhas!

  • Por um modelo econômico que atenda à necessidade das trabalhadoras e jovens negras; que deixe de priorizar os bancos, a Copa e a dívida externa e que invista nos serviços públicos de saúde, moradia, transporte, educação e nas políticas públicas de reparação ao povo negro.
  • Contra a violência e a exploração sexual! Dilma vete o estatuto do nascituro e a bolsa estupro! Pelo direito de decidir: anticoncepcionais para não engravidar, educação sexual para decidir, aborto legal e seguro para não morrer! Creches públicas, já! Em defesa das prostitutas, contra legalização da prostituição!
  • Pela revisão da PEC das empregadas domésticas. Garantia dos direitos trabalhistas e proteção social às empregadas domésticas como os garantidos pela CLT!
  • Contra as políticas dos governos estaduais e municipais de extermínio e violência policial aos negros. Punição imediata dos assassinos. Desmilitarização imediata das políticas. Contra a redução da maioridade penal.
  • Por um verdadeiro estatuto da igualdade racial! Cotas raciais nas universidades e concursos públicos, com reserva de vagas proporcionais à população negra de cada estado. Pelas titulações das terras quilombolas e indígenas!
  • Contra o machismo, o racismo, a homofobia, a lesbofobia e a transfobia! Por um Estado Laico! Fora Feliciano!

Movimento Mulheres em Luta (MML); Quilombo Raça e Classe e ANEL

quarta-feira, 10 de julho de 2013

PSTU RESPONDE À COLUNA BASTIDORES DE O PROGRESSO

Ao lermos a infeliz colocação do colunista enviamos a seguinte resposta:

Em resposta à nota publicada na coluna “Bastidores” do Jornal O progresso (10/07) com o titulo “Rendeu-se” que cita o camarada Marcos Silva a respeito de uma decisão de não participar mais do processo eleitoral burguês o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado esclarece:

Marcos Silva que vem desde 1996 sendo a principal figura pública do PSTU no Maranhão cumprindo importantes enfrentamentos com os candidatos da velha oligarquia Sarney e mais, graças ao seu comprometimento de construção partidária pode dar-se o “luxo” de escolher se colocará ou não seu nome à disposição do partido como candidato, tal decisão será tomada como sempre foi, dentro do coletivo partidário democraticamente, haja vista, que outros quadros foram construídos ao longo desse tempo e o partido credita muito disso ao trabalho realizado pelo camarada quando candidato, e ainda continuará dando trabalho ao clã Sarneys e as falsas oposições com seu pensamento crítico e não é pelo fato de não ser candidato que ele deixará de ser o militante das lutas do Maranhão como sempre foi.

Wilson Leite e Eloy Natan, dirigentes do PSTU municipal e estadual respectivamente.

domingo, 7 de julho de 2013

11 DE JULHO O BRASIL VAI PARAR

Em Imperatriz a concentração acontece na praça de Fátima a partir das 16 horas com saída rumo à BR 010. Esperamos todos os sindicatos com suas categorias para reivindicarem as demandas de cada um e um transporte público de qualidade, pontualidade, municipalizado e tarifa zero para a cidade de Imperatriz. 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Neonazistas atacam partidos de esquerda e movimentos sociais

O PSTU e outros partidos de esquerda, além de entidades e movimentos sociais, como sindicatos e organizações de Direitos Humanos, estão sendo alvos de violentos ataques planejados e executados por grupos de orientação nazi-fascistas. Na onda de protestos que tomou o país nesse dia 20 de junho, diversos militantes ficaram feridos, alguns tiveram que ser hospitalizados.
Um dos ataques maios violentos ocorreu no Rio de Janeiro, quando um bando encapuzado, alguns deles de grande porte físico com as cabeças raspadas, investiu contra a coluna formada por partidos e organizações sociais. Os militantes tentaram formar um cordão humano para se defender das agressões, mas o grupo, em grande número, atacou com bombas, pedras e paus. Alguns veículos de comunicação, contudo, mostraram imagens do cordão de isolamento como se fosse o início das agressões, quando na verdade era o seu oposto, uma tentativa de defesa. As agressões não partiram dos militantes das organizações de esquerda ou movimentos sociais. Ao contrário, foram vítimas desse violento ataque orquestrado que deixou pelo menos 13 militantes feridos.
Ação semelhante ocorreu em São Paulo, onde um grupo, com muitos membros ostentando símbolos nazistas, atacou os partidos de esquerda e entidades sindicais na Avenida Paulista. Estranhamente, atacaram com armamento tradicionalmente utilizado pela polícia, como bombas de efeito moral, spray de pimenta e armas de choque.
Em Natal, o dirigente do PSTU e candidato a prefeito pelo PSTU nas eleições de 2012, Dario Barbosa foi agredido com uma garrafa no queixo, levando cinco pontos. Agressões do tipo se repetiram em diversas partes do país.
Esses ataques são invariavelmente acompanhados por ameaças desses grupos organizados através das redes sociais. No Rio de Janeiro, um grupo neonazista denominado "Combat 18" já havia postado cartazes com ameaças nas proximidades das sedes do PSTU e PCB.
"Existe um justo sentimento anti-partido devido ao desgaste dos partidos tradicionais e à decepção com o PT no governo, e isso tem sido utilizado pela direita e a ultradireita, como grupos neonazistas para atacar a esquerda e os movimentos sociais. Nada justifica agressões ou coação para que não levantemos nossas bandeiras", afirma José Maria de Almeida, presidente nacional do PSTU. "Lutamos contra a ditadura justamente para que todos tenhamos liberdade de expressão e de organização", reforça o dirigente que foi preso e torturado pela Ditadura Militar em 1977.

PSTU NACIONAL

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O LUGAR DA PERIFERIA NA NOVA CONJUNTURA POLÍTICA QUE SE ABRE NO PAÍS

As consequências são ainda imensuráveis. O sudeste do país em convulsão social, os trabalhadores e a juventude aos milhares dão as mãos nas ruas. O aumento das passagens de ônibus foi apenas o estopim que fez explodir o tampão que comprimia as lutas socais em nosso país há mais ou menos duas décadas. 

Não tenho os dados, mas arriscaria dizer que esse processo em seu final terá como resultado não somente a redução do preço das passagens de ônibus, mas a diminuição dos conflitos intraperiféricos, o arrefecimento da guerra interna entre a juventude das periferias dos grandes centros urbanos. Toda a energia outrora descarregada em uma guerra autofágica ganha vazão nas ruas, na multidão pacifica, mas enfurecida contra o Estado-classe e isso pode se espalhar por todo o país.
A burguesia ver sua força espiritual questionada em multidões. Um dos seus principais materiais ideológicos, sua mídia comercial, está tendo sua autoridade moral abalada. E agora como defender a repressão se os seus jornalistas também estão na mira do “fogo amigo” do braço de ferro que tanto defendem? Jornalistas reacionários como Luiz Datena e Arnaldo Jabor esgotaram seus repertórios criminalizadores. O último teve que fazer autocrítica pública por ter afirmado que os atos de São Paulo eram coisas de jovens de classe média da USP.
A juventude periferia sai do noticiário policial para entrar no noticiário político, ainda que enfrentando a mesma polícia que os reprimem cotidianamente, já que os direitos humanos não entram nessas localidades. Aliás, onde o PT diz que existe uma classe média emergente, há na verdade o aprofundamento da barbárie capitalista e nela a juventude negra é esvaziada da condição de ser humano. Em Alagoas a possibilidade de um jovem negro ser assassinado é mil vezes maior do que um jovem branco. A função do mito da democracia racial é invisibilizar esse etnocídio. Mas, tal como no Brasil colonial, a humanidade desses jovens é resgatada na rebelião contra o sistema que os colocou nessa situação limite. De bandidos de alta periculosidade viraram baderneiros. Já é algum avanço.
A classe média que não pega ônibus se solidariza com a luta. Trabalhadores formais e informais se veem simplesmente como trabalhadores. O universo letrado e o plebeu das grandes metrópoles estabelecem entre si uma relação de confiança. É dessa solidariedade que a periferia precisa, aquela forjada na luta e não no assistencialismo do Terceiro Setor que educa o povo a não lutar. Nessas lutas, a periferia pode aprender que transformar o lixo da burguesia em luxo é ilusório, socializar o luxo é mais que necessário. 
O inimigo de classe está ficando mais visível, já não precisamos de lupa para enxergá-los. Não tenho dúvidas que novas lideranças, novas canções e novas consciências serão forjadas nessas lutas. Sinto que uma nova situação política pode nascer na periferia, desde que haja intervenção qualificada para isso. As condições estão dadas para que a periferia possa definitivamente encontrar o seu lugar, o da luta política pela superação do capitalismo.
Hertz Dias, professor, milintante do PSTU e CSP-CONLUTAS

segunda-feira, 3 de junho de 2013

CONVITE: LANÇAMENTO DE LIVRO E DEBATE SOBRE OS 10 ANOS DO PT NO GOVERNO FEDERAL

O PSTU convida todos os militantes de esquerda de Imperatriz, em especial da UEMA e da UFMA para participarem do lançamento do livro “PT: de oposição à sustentação da ordem”, de Cyro Garcia*, na ocasião será montada uma mesa composta pelo PSTU, PSOL e PCB de Imperatriz e aberto à plenária.
O evento faz parte dos ciclos de debates que o PSTU vem realizando em todo o Brasil sobre os 10 anos do PT no governo federal com a pergunta: para quem esta estrela brilhou?
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Metalúrgicos, trabalhadores rurais e movimentos sociais, principalmente os vinculados à igreja católica, que ajudaram a construir, até 2002, a história do Partido dos Trabalhadores, devem estar se perguntando: e agora, como vamos vencer o “patrão” que colocamos para nos explorar?

O PT de hoje não tem nenhum resquício do PT dos anos 80, que arregimentava operários e militantes para defender um projeto de poder dos trabalhadores. E ao longo de mais de três décadas, ainda não completou seu processo de metamorfose, superando um dos piores medos dos verdadeiros revolucionários que era o de se tornarem um partido reformista, transformou-se num partido da ordem burguesa.

Muitos estágios dessa metamorfose estão relatados no livro: PT: de oposição à sustentação da ordem, escrito por Cyro Garcia*. Tudo começa quando os dirigentes do partido deixam de lutar pela transformação social para se dedicar à garantia de riqueza e seus benefícios – prestigio e poder – e, se finda na manutenção desse poderio econômico através de um pacto com a burguesia, onde seu papel é controlar o sentimento de luta dos trabalhadores que ainda os vêem como aliado, em troca de pequenas concessões, enquanto mantém a gerência do capital para a grande burguesia.


“Ensina uma boa escola historiográfica que para explicar o passado e, em especial, para elaborar uma história das idéias políticas dos partidos nas sociedades contemporâneas, é bom admitir que as cabeças acompanhem o chão que os pés pisam. E a direção do PT deixou de pisar nas portas de fábrica, e passou a pisar os tapetes dos parlamentos e dos palácios.” (Cyro Garcia: "PT: de oposição à sustentação da ordem", pág. 21. Editora Achiamé, 2011) Essa afirmação é comprovada na mudança do perfil dos militantes que passaram a ser maioria esmagadora nas instâncias de deliberação e direção do partido ao longo de seus congressos e encontros.Essas mudanças do perfil econômico das direções do partido vieram através da conquistas eleitorais (prefeituras, governos estaduais e presidência), participação em direção de empresas Estatais e Mistas (Banco do Brasil), conselhos administrativos de fundos de pensão (Caixa de Previdência dos funcionários do Banco do Brasil), do FAT e do FGTS. Não foi por coincidência a participação do partido nessas áreas de capital financeiro, cujo dinheiro foi usado também na compra de ações de empresas privatizadas por FHC como a VALE em 1997. O trabalho de Cyro Garcia explica em detalhes melhor essa relação promiscua.

"Admito, é bem melhor ter dinheiro em caixa e não precisar submeter militantes a jornadas heroicas noite adentro. Mas a que preço" Frei Beto. A mosca azul: reflexões sobre o poder. Rio de Janeiro: Rucco, 2006.

fonte: Texto publicado originalmente no blog do Wilson Leite

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*Cyro Garcia formado em Direito (UFRJ), doutorado em História (UFF), fundador do PT e da CUT, Ex-deputado federal (PT). Participou em 1994 da fundação do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), integrando-lhe até os dias hoje. Em 2003 rompeu com a CUT e participou da fundação da Conlutas, atualmente CSP-Conlutas – Central Sindical e Popular.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Karl Marx: seu nome viverá através dos séculos

Aos 130 anos da morte de Karl Marx, Editora Sundermann lança o clássico "Karl Marx – A história de sua vida", de Franz Mehring


Na tarde do dia 14 de março de 1883, portanto há exatos 130 anos, sentado em sua cadeira de descanso, Karl Henrich Marx fechou os olhos pela última vez. O cérebro que havia desvendado as leis fundamentais do desenvolvimento histórico; que havia destrinchado o mecanismo de funcionamento da sociedade capitalista e seu sistema de exploração; e que havia encontrado no proletariado moderno, organizado em classe dominante, a possibilidade de superação da pré-história na qual a humanidade se encontra presa – este cérebro se apagou para sempre. O amigo Engels, que estava com ele nestes últimos dias para ajudá-lo a suportar as dores de um tumor no pulmão e outras complicações, saiu da sala por menos de dois minutos e, quando voltou, Marx já não vivia. O proletariado mundial havia perdido seu maior mestre.
 
Pouco mais de um ano antes, no final de 1881, morrera Jenny, sua esposa; e, antes dela, em diferentes situações, quatro dos sete filhos que tiveram. Com seus entes queridos morrendo por falta de remédios ou tratamento adequado e com sua própria saúde debilitada, o que lhe impedia de realizar um amplo trabalho intelectual e político, os últimos anos da vida do grande homem foram particularmente tristes e dolorosos.
 
Apesar de ter vivido em uma inquietação intelectual permanente até seu último dia, o fundamental da obra de Marx já estava feito quando ele morreu. Ele havia completado o primeiro tomo de O Capital, sua obra magistral, e deixado suficiente material para que seu amigo Engels editasse os dois tomos seguintes.
 
Marx havia fundado, inspirado e dirigido com mãos de ferro a Associação Internacional dos Trabalhadores (conhecida depois como I Internacional), que por sua vez cumpriu um papel decisivo durante os dias da Comuna de Paris, em 1871, quando os operários se apoderaram da cidade-luz, montaram um governo proletário, de tipo comuna, e dirigiram a capital francesa por dois meses, até serem afogados em sangue pela reação burguesa.
 
Anos antes, Marx já tinha sido uma figura central na Revolução de 1848, que explodiu em quase todo o continente europeu e estabeleceu uma democracia burguesa limitada na Alemanha, se tornando a partir daí um líder político reconhecido por todos os movimentos de trabalhadores da Europa.
 
Assim, o filósofo era também um dirigente e organizador partidário: percorria países, reunia operários, lhes explicava os segredos de sua exploração, entusiasmava jovens e movia-os consigo. O judeu de cabelos negros e grossos, de corpo robusto e movimentos lentos, tinha também um grande amigo: Friedrich Engels, com o qual colaborou por mais de 40 anos, elaborando com ele, ainda no início dos anos 1840, uma crítica demolidora de toda a filosofia alemã, predominante no meio intelectual europeu daqueles dias. Desta destruição criadora, surgiu a concepção de homem e de história que mudaria a face da Terra para sempre: o socialismo científico, a ciência da libertação humana.
 
Quando jovem, Marx era sentimental e apaixonado, e queria ser poeta. Seu quarto na residência estudantil da Universidade de Bonn, sujo e mal iluminado por uma lâmpada na qual quase sempre faltava o óleo, era repleto de poemas à sua amada Jenny, “a menina mais bonita de Trier”, “o tesouro da Romerstrasse”. Mas no cérebro do jovem Marx já fervilhavam os ideais de justiça e liberdade, aos quais mais tarde ele daria forma científica. “O diabo vive em seu peito”, costumava dizer seu carinhoso e preocupado pai. Em 1835, aos 17 anos, em sua redação final para o exame de ginásio, Marx escreveu: “Se escolhermos uma profissão onde possamos trabalhar pelo bem da humanidade, não nos curvaremos perante suas dificuldades porque será um sacrifício em nome de todos. Não sentiremos uma alegria limitada, egoísta e pobre. Ao contrário, nossa felicidade pertencerá a milhões. Nossos atos terão uma existência silenciosa, porém eterna, e sobre nossas cinzas os mais nobres homens derramarão lágrimas sinceras”.
 
Este homem viveu toda sua vida de acordo com estes princípios estabelecidos por ele mesmo ainda em sua tenra juventude. E sobre seu túmulo derramaram suas lágrimas nobres homens da ciência e da política, mas também modestos operários tecelões, marceneiros e ferreiros.
 
130 anos depois de sua morte, todo operário consciente deve saber que existiu tal homem e que sua vida foi dedicada total e absolutamente à luta pelo fim da exploração e da opressão; que suas ideias seguem válidas até hoje e ainda inspiram e seguirão inspirando muitas gerações de socialistas revolucionários.
 
A vida de Marx nos ensina que, separadas da prática, as ideias não contêm, por si só, nenhuma verdade e que nenhum sacrifício é demais quando se tem ao seu lado a razão histórica; quando a causa a que se serve é a causa do verdadeiro progresso humano; quando a luta que se trava está para além de seu lugar e seu tempo.
 
Aos 130 anos de sua morte, a Editora Sundermann lança Karl Marx – A história de sua vida, a clássica biografia escrita por Franz Mehring, revolucionário alemão e companheiro em armas de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Nesta edição, o livro vem prefaciado pelo historiador e intelectual marxista Valério Arcary.
 
Além da edição do livro em si, a Editora Sundermann realizará pelo país, durante todo o mês de junho, uma série de atividades de lançamento, como debates, palestras e apresentações. A primeira apresentação pública do livro ocorrerá no II Congresso da ANEL, marcado para os dias 30 e 31 de maio e 1º e 2 de junho em Juiz de Fora (MG). A partir do dia 4 de junho, o livro estará disponível também no site da Editora Sundermann por R$ 60.
 
Como disse Friedrich Engels no enterro de seu grande amigo: “Ele morreu respeitado, amado e com a morte lamentada por milhões de trabalhadores revolucionários, desde as minas siberianas, pela Europa e América, até a costa da Califórnia. E eu ouso dizer com orgulho que apesar de ter tido muitos oponentes, não conheceu um único inimigo pessoal. Seu nome viverá através dos séculos, assim como sua obra.”
 
Esta é a homenagem da Editora Sundermann aos 130 anos da morte de Karl Marx.