Nosso partido, que sobreviveu ao vendaval oportunista da década de 1990, é hoje uma organização vitoriosa, simplesmente por que passou pelas experiências mais duras da história da luta de classe daquela fase que se abriu com a queda do muro de Berlim e com a restauração do capitalismo na Rússia. Ousamos construir um partido socialista em uma época em que os ideólogos do capital e os reformistas tentavam convencer os trabalhadores que os mesmos não existiam enquanto classe social, que a burguesia não era uma classe social e que, portanto, a luta de classe era uma invenção dos marxistas xiitas. O que existia de fato, diziam, era uma romântica sociedade civil em que patrões e empregados poderiam conviver harmonicamente, isso se elegessem a razão comunicativa como seu mediador de luxo. No inconsciente coletivo da nossa classe parecia que o capital seria eterno e o socialismo um cadáver a espera da última pá de cal. O marxismo maranhense era um fusca que abrigava seus últimos moicanos. Era preciso ter coragem, e ela não nos abandonou em momento algum, nem quando o stalinismo e o reformismo tentavam nos confinar na mais dura solidão política. Mais do que isso, criminalizaram e desempregaram metade do nosso partido.
Sim, erramos muito, sectarizamos em excesso, mas nenhum dos erros passados pode amortalhar nossos acertos. Acertamos, sobretudo, por que mantivemos viva a chama, talvez uma centelha, da construção de uma pequena regional de um partido revolucionário que hoje enche de orgulho a LIT.
Hoje estamos em outro nível de organização, seja para dentro do nosso partido (bolchevização) ou para fora (na relação orgânica com a classe). Já não somos mais um partido só de sede. O processo de reorganização da classe nos deu algumas perolas, daquelas que quando os escravos encontravam nos aluviões escondiam entre os dentes para garantir não só sua alforria individual, mas também a de alguns de seus pares. Perolas são perolas, e enquanto tais devem ser cuidadas, lapidadas e preservadas. Assim é cada um dos militantes que captamos nos aluviões da luta de classe dos últimos 10 anos, assim como é cada um daqueles que foram lapidados na difícil década de 1990. Naquela década o stalinismo e o reformismo eram pedras no caminho do marxismo revolucionário, hoje temos orgulho de dizer que estamos chutando algumas dessas pedras do caminho de nossa classe, como se deu no SINDEDUCAÇÃO, no DCE da UFMA e em bancários. Mesmo onde não temos ainda força para ser direção, temos a certeza que estamos construindo nosso partido, e essa é a maior de nossas vitórias.
Temos problemas entre nós, é verdade, mas se temos soluções ousadas para nossa classe, esses problemas se apequenam diante da grandeza de nosso objetivo estratégico em nível regional, que é a destruição das oligarquias em nosso Estado. Nenhum partido no Maranhão tem moral política para levar essa tarefa a cabo a não ser o PSTU. A transição desastrosa da gestão Castelo para Edvaldo Holanda, é a prova viva de que temos que está mais forte. A classe nos chamará. Os corpos desfalecidos no chão das periferias ou nos campos que Roseana Sarney quer omitir para reduzir as estáticas de seus crimes contra nossa classe e nossa raça, nos impõe fortalecer nossa unidade, que é a razão de nossa existência.
A vinda do ex-CAC para nossa organização não é uma vitoria só do nosso partido, seria egoísmo afirmar isso, por que na verdade foi uma vitória de nossa classe. Quem diria que aqueles (as) que combatiam conosco nas trincheiras das lutas contra as oligarquias, ainda que em organizações diferentes, estariam hoje dividindo conosco a dor e o prazer da realizar a atividade revolucionária mais apaixonada e sacrificante que podemos ter, que é a construção de um intelectual coletivo revolucionário. Temos orgulho de ter uma juventude aguerrida, ousada, de alto nível político que fez dobrar os joelhos do stalinismo e dos satélites da oligarquia na UFMA, tudo isso com uma só tacada, na vitória arrasadora ocorrida no DCE daquela universidade. Isso é fruto de trabalho e organização, tal como tem sido no ANDES, SINASEFE, SINTRJUFE, nos urbanitários ou no Movimento Popular (Quilombo Raça e Classe, Quilombo Urbano, Luta Popular, Mulheres em Luta, etc.). No linguajar dos manos, fomos um bonde vitorioso em 2012.
Mas, não caminhamos sobre qualquer trilho, o nosso tem um objetivo similar ao que levou Lênin a Estação Finlândia. Muitas vezes somos duros demais conosco mesmos, por que nossa caminhada é muito dura e como diz Mano Brow, “quando a caminhada fica dura somente os duros continuam caminhando”. Somos aqueles que continuaram caminhando na contracorrente da maré oportunistas. Temos que continuar duros, seguindo na dura caminhada, mas sem perder a ternura, falo isso por mim e gostaria muito de falar por todos. Somos revolucionários imperfeitos, por que imperfeita é a humanidade que queremos superar. Por isso construímos um partido revolucionário que é o nível superior de organização de nossa classe, e isso nada substitui. É o nível superior por que é o único capaz de construir a unidade da nossa classe em escala mundial.
A construção da LIT não é uma ideia de loucos apaixonados pela luta. É mais do que isso, é um projeto de socialista apaixonados pela classe, pela libertação de nossa classe. Quando entrei no teatro em Buenos Aires para participar do ato da LIT e vir a multidão de litianos apaixonados, me senti demasiadamente pequeno enquanto maranhense, mas do tamanho do mundo enquanto militante revolucionário. Ali, naquele espaço, onde em 1987 centenas de revolucionários choravam a morte de Nahuel Moreno, 25 anos depois outras centenas choravam emocionadas pela herança que Moreno, Marx, Leon Trotski, Lênin, Rosa Luxemburgo e tantos outros nos deixaram. De lá retornamos aos nossos lares, aos braços de nossos familiares e amigos, mas de lá outros obstinados litianos foram para Europa e para outras partes do mundo ajudar a construir partidos revolucionários. Quase sempre distantes do aconchego de seus amigos e familiares.
Então, somos ou não somos camaradas? Não tenho dúvida que somos! Não tenho dúvida que qualquer um de nós tem coragem de dá a vida por qualquer outro de nós. Assim como somos capazes de dá nossas vidas lutando ao lado dos haitianos contras as tropas brasileiras que os massacram. Somos os olhos das costas dos outros. Somos vanguarda e retaguarda rotativa de nós mesmos. Não é só fisicamente que nos protegemos ou nos sacrificamos pelos outros, é, sobretudo, em nome de um programa que abraçamos, o da revolução mundial.
Somos o que somos por que somos síntese do que de melhor se formou na década de 1990, incluído alguns que não militavam conosco na época, e o que tem de melhor na nova geração de militantes comunistas do Maranhão. Se na década de 1990 foi muito difícil construir Partido, a nossa responsabilidade a partir de agora é muito superior a que tínhamos há 20 anos. Vamos caminhar para frente, olhar para frente, sem perder de vista os erros e acertos das duras caminhadas passadas. O PSTU me faz um militante cada vez mais romântico que a cada dia aprende a amar cada um de vocês, independente da localização, geração ou posicionamento.
Que venha 2013.
Hertz Dias, professor e militante do PSTU/Slz.
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