quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Por JOSÉ MARTINS: Doença Chinesa.

Uma importante macrotendência do ciclo atual aproxima as principais economias dominadas do estado estacionário e deve se arrastar assim até o fechamento do atual período de expansão global, quando erupções mais drásticas deverão acontecer.
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Sete de Setembro, independence day, quer dizer, dia da independência. Mas independência de quem? Do Brazil? Nesta exótica economia do fim do mundo, é feriado nacional. Todo mundo parado. Entretanto, no centro do sistema o expediente é normal. O ciclo econômico segue seu ritmo, o relógio da economia não para. No site da Bloomberg News, diário oficial do capital mundial, milhões de notícias da vida real do capital. Direto de Wall Street, notícias de um mundo totalmente diverso do discurso da burocracia de Brasília de que os problemas da “quinta economia do mundo” do pibinho zero, produção abaixo de zero, desindustrialização, etc., são devidos à tal da “crise econômica internacional”.

Crise aonde? Na Europa? Para quem confunde Europa com União Europeia e, pior ainda, com Eurozona, veja essas manchetes: “Produção industrial da Alemanha sobe surpreendentemente 1,3% em Julho”. Ou essa outra: “Produção industrial da Inglaterra tem a maior expansão em 25 anos”. 1 A indústria inglesa crescendo à maior taxa mensal desde fevereiro de 2007!

PARADOXOS – Talvez a atual expansão da produção não seja tão exuberante nas economias dominantes. Mas dá para o gasto. Não é o caso nas economias dominadas. Aqui a situação está mais para jacaré do que para colibri. Tanto nas periferias europeias quanto nas áreas mais populosas do mundo. Nas maiores economias do bloco dos Brics (Brazil, Rússia, Inde, Chine, South Africa), por exemplo, não dá mais para esconder a clara tendência de desaceleração dos lucros e da produção. Sem perspectiva de reversão. Uma macrotendência que aproxima as principais economias dominadas do estado estacionário e deve se arrastar assim até o fechamento do atual período de expansão global.

Frente à macrotendência, os capitalistas brasileiros ficam embasbacados com o fato de que sua tão dinâmica economia de algum tempo atrás não reage às terapias keynesianas do governo: “A economia brasileira é um paradoxo. O governo abre a mão e despeja recursos e incentivos em massa na economia, os juros nunca foram tão baixos e o desemprego permanece em patamares mínimos. Tem-se aqui a combinação perfeita para injetar ânimo e insuflar o consumo e os investimentos. mas o PIB não dá sinais de reação. Por quê?”.

Pois é, cara pálida. Por quê? Você poderia pelo menos balbuciar uma resposta – e não ficar na eterna lengalenga da falta de infraestrutura, educação, excesso de burocracia e outras bobagens liberaloides – se começasse a investigar, por exemplo, o impacto que causa no desenvolvimento econômico de nações com grande espaço territorial e grande população a opção pela especialização na produção de commodities para exportação (matérias primas agrícolas e minerais), ou, ao contrario, a opção pela produção de cereais para o mercado interno. No primeiro caso, como no Brasil, você produz uma economia dominada e com baixa produtividade sistêmica; no segundo, como nos Estados Unidos, uma economia dominante e com elevadíssima produtividade/competitividade.

Entretanto, o problema do comércio exterior no processo de desenvolvimento econômico desigual e combinado no mercado mundial não se limita à especialização na exportação de commodities (matérias primas e agrícolas), como no caso do Brasil; diz respeito, como condição geral, a qualquer opção mercantilista de tornar os superávits comerciais o centro dinâmico e regulador da atividade econômica nacional. O caso mais notável é o da China, gigantesca exportadora de mercadorias manufaturadas e montadas pelas empresas globais em suas inúmeras plataformas de exportação.

Uma doença chinesa. Neste movimento circulatório da acumulação do capital o aprisionamento estrutural das economias dominadas às exportações é uma exemplar manifestação de um sistema produtivo nacional em que predomina a mais-valia absoluta (pagamento do salário abaixo do valor da força de trabalho e prolongamento da jornada), ao contrário das economias dominantes, onde predomina a mais-valia relativa (elevada produtividade do trabalho) como forma de valorização do capital.

Nestas condições, o paradoxo do pleno emprego da força de trabalho e estagnação na produção no Brasil e na China ocorre simultaneamente a um paradoxo ainda mais insondável pela economia política vulgar: elevado nível de desemprego da força de trabalho acompanhado de expansão da produção nos Estados Unidos e Alemanha, apenas para citar as duas maiores economias dominantes da ordem imperialista mundial.

BOLETIM: CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação Popular, S.Paulo.

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